Muitos artigos foram escritos sobre o filme “Argentina 1985” que concorria ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e que foi um dos favoritos em concurso na 79° Festival de Cinema de Veneza em 2022, no seu 90° aniversário (1932-2022).
Esse é um texto do que senti vendo o filme, está escrito na minha pele, na minha alma.
Chorei, tremi, me arrepiei, ali naquelas situações estava aquela menina de 22 anos que deixou o Brasil em 1978 por causa da ditadura militar. Lembrei também daquela garotinha de 12 anos em 1968, com medo de agressões dos militares à cavalo, aos estudantes no centro de SP, que jogou um saco de bolinhas de gude para impedir a agressão dos militares, que tinham gestos tipicamente fascistas, “paternais”, tiravam os cintos de couro e batiam nos estudantes, espirravam jatos fortes de água com tinta vermelha nos estudantes para “marcá-los” e poder acertar cacetadas e golpes mais eficazmente.
Por quê? Para que nos agrediam?
Crescemos com a sombra terrível da ditadura nas esquinas sociais.
"...o sadismo não é uma ideologia política, nem uma estratégia de guerra, mas uma perversão moral". Esta é uma das frases que o filme extraiu das palavras citadas em julgamento (Buenos Aires) por Julio César Strassera (†2015), então promotor do Julgamento das Juntas Militares, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos e Pluralismo Cultural. Já no final do filme, às lágrimas de pelo menos 50% do público de Veneza, o gran-finale cita “Quero usar uma frase que não me pertence mais porque ela pertence a todo o povo argentino: Senhores Juízes, NUNCA MAIS!”
Ditadura nunca mais, desaparecidos, torturas, descasos, NUNCA MAIS. Nunca mais até quando? Nós, no Brasil, demos anistia aos militares, e não pagaram suas culpas pelas atrocidades cometidas. O julgamento de 1985 foi uma lição fundamental para a sociedade.
O filme mexeu muito comigo, pois estava coincidindo com o momento histórico que estávamos vivendo no Brasil, e um certo medo que vinha sentindo pelas eleições (Lula x Bolsonaro). Recentemente a extrema direita venceu as eleições na Argentina e o mesmo arrepio de medo de injustiças e agressões volta à tona.
No filme de Santiago Mitre e na Argentina real daqueles anos, quem ajudou a levantar essa mola de partida para a democracia foram os jovens, unidos, brilhantes, fortes. Na América do Sul, se nós acatássemos nossas características originais, de multiplicidade cultural e de todas as raças que nos compõem, que nos fazem lindos, lindamente híbridos, se fosse efetiva a utópica luta para diminuir a extrema desigualdade de classe, de raça, de gênero, sem ódio, sem fomentar a raiva dos que são pobres e não têm o que comer, nós poderíamos mudar ou pelo menos tentar um vero crescer como continente, abusando da criatividade que nos compete.
“Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”, como diz Caetano Veloso numa das suas pérolas musicais.
Filme é pra ser visto no cinema e esse, eu aplaudi de pé.
Genero: Drammatico Anno:2022
Direção: Santiago Mitre
Atores: Ricardo Darín, Peter Lanzani, Carlos Portaluppi, Norman Briski, Alejo Garcia Pintos, Alejandra Flechner, Claudio Da Passano, Héctor Díaz
País: :Argentina, USA
Duração: 140 min
Roteiro: Mariano Llinás, Santiago Mitre
Fotografia:Javier Julia
Montagem: Andrés P. Estrada
Musica: Pedro Osuna
Produção: La Unión de los Ríos, Kenya Films, Infinity Hill
Comments